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O caso PC Farias
23 de junho de 1996
Paulo César Farias, conhecido como PC Farias, foi encontrado morto junto com a namorada dele, Suzana Marcolino, no dia 23 de junho de 1996, em sua casa de praia, no bairro Guaxuma, no Litoral Norte de Maceió. O caso ganhou repercussão internacional e se tornou um dos casos mais emblemáticos do judiciário alagoano. Até hoje, ninguém foi condenado pelas mortes, mesmo após a tese de duplo homicídio ter sido apontada em perícia e reconhecida em júri popular.
À época do crime, a versão oficial, apresentada pela polícia de Alagoas, indicava que Suzana, em meio a uma crise de ciúme, teria atirado no namorado enquanto ele dormia e, em seguida, cometido suicídio. Contudo, a explicação foi amplamente contestada.
Corrupção
A tese concorrente era a de que o homicídio seguido de suicídio não passou de uma farsa, providencialmente armada para encobrir um homicídio como forma de queima de arquivo, já que PC era uma espécie de caixa-preta humana, que guardava os maiores segredos do esquema de corrupção que escandalizara o Brasil e que, menos de quatro anos antes, em 1992, levara ao processo de impeachment e à renúncia do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Tesoureiro da campanha de Collor à Presidência, PC Farias foi responsável por organizar um caixa 2 estimado pela Polícia Federal em cerca de 1 bilhão de dólares. A fortuna era proveniente de uma rede de dinheiro sujo que chegou a manter conexões com a máfia italiana e o crime organizado internacional.
Em junho de 1993, um dia antes de ter sua prisão decretada pela Justiça, sob acusação de falsidade ideológica e de abertura de contas bancárias ilegais no exterior, PC Farias fugiu. Ele passou 152 dias foragido, despistando a Polícia Federal e da Interpol, mas foi localizado e preso na Tailândia.
Em dezembro de 1995, ele foi posto em liberdade condicional. Na cadeia, conhecera Suzana Marcolino, uma moça 24 anos mais nova que ele. Apesar da resistência geral da família, especialmente do irmão Augusto Farias, PC oficializou o romance, permitindo que Suzana fosse apresentada à sociedade local justamente no velório do patriarca do clã, Gilberto Farias.
Seis meses depois, o casal seria encontrado morto, em Guaxuma. Imediatamente, a polícia anunciou à imprensa que trabalhava com a hipótese de crime passional. À época, foi enviado a Maceió um grupo de 11 peritos, liderado pelo legista Badan Palhares, que concluiu que Suzana matara PC, que estava dormindo, e, em seguida, se suicidara. Os seguranças responsáveis pela guarda da casa, em depoimento à polícia, disseram ter ouvido o casal discutindo no quarto, logo depois do jantar, quando os convidados, Augusto Farias e a namorada Milane, já haviam ido embora.
Descobriu-se que o revólver encontrado junto aos corpos, sobre a cama, fora comprado por Suzana, com um cheque assinado por ela, uma semana antes do crime. Um exame comprovou ainda a existência de pólvora nas mãos de Suzana.
Guerra de laudos
A primeira voz dissonante em relação à versão oficial partiu de um professor de Medicina Legal da Universidade Federal de Alagoas, George Sanguinetti. Ele concluiu que, pela localização do ferimento, pela posição do corpo de PC, pela estatura de Suzana e pelo ângulo do disparo, houve duplo homicídio.
Outras dúvidas começaram a surgir quase que simultaneamente pela imprensa. E para o esclarecimento definitivo do caso, foi necessário fazer nova perícia e os corpos de Suzana e Paulo César foram novamente exumados. O novo exame nas mãos de Suzana confirmou a presença de pólvora, mas em pequena quantidade, e não se encontraram resíduos de chumbo, bário e antimônio, elementos metálicos que integram as substâncias químicas iniciadoras da espoleta.
Mas o detalhe que mais chamou a atenção na chamada “guerra dos laudos” foi a discussão sobre a altura real de Suzana Marcolino. Conforme Palhares, ela media 1,67 metro. De acordo com o novo laudo, ela teria 10 centímetros a menos. Os legistas da segunda equipe recalcularam então a trajetória da bala, tomando como base o buraco que ela deixara na parede, após transpassar o corpo de Suzana.
Concluíram que, se Suzana estava sentada na cama como indicava a primeira reconstituição, o tiro deveria ter passado à altura de sua cabeça, e não atingido o pulmão esquerdo, como o fizera.
Mesmo com as dúvidas trazidas à luz pelo segundo laudo, o caso prosseguiu arquivado. Até que, em 1999, uma série de matérias publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo estampou oito fotos de Suzana ao lado de PC e de outras pessoas próximas a ela. O objetivo era demonstrar que Suzana Marcolino não tinha o 1,67 metro registrado pelo primeiro laudo. Mesmo equilibrando-se nos saltos altos, ela aparecia nas fotos um pouco mais baixa do que PC Farias, que tinha apenas 1,63 metro. O caso foi imediatamente reaberto.
O inquérito concluído pelo promotor Luiz Vasconcelos em agosto de 1999 decidiu pelo indiciamento de Augusto Farias e dos quatro seguranças que faziam a guarda da casa de praia de PC em Guaxuma. Entretanto, como exercia mandato de deputado federal, Augusto contou com a prerrogativa de ter seu processo remetido à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília.
A PGR recomendou o arquivamento do caso, aceitando a tese de homicídio seguido de suicídio. Com base nisso, o Supremo Tribunal Federal deu por encerrado o processo. Apenas os quatro seguranças de PC Farias – os cabos Adeildo Costa dos Santos e Reinaldo Correia da Silva Filho, bem como os soldados José Geraldo da Silva Santos e Josemar Faustino dos Santos – iriam a júri popular em Maceió.
O advogado dos quatro seguranças, José Fragoso Cavalcante, cujos honorários foram pagos por Augusto Farias, apostou na absolvição de seus clientes e acertou. Em maio de 2013, os 4 seguranças foram a júri popular, mas acabaram absolvidos. O julgamento foi presidido pelo juiz da 8ª Vara Criminal de Maceió, Maurício Brêda. Para ele, os réus foram absolvidos por clemência.
O júri também descartou a possibilidade de homicídio seguida de suicídio por parte da namorada do empresário, "Não há crime passional com único disparo e o tiro deflagrado foi de profissional. Jamais Suzana Marcolino teria condições de ser a autora do disparo. Havia uma hemorragia interna com 1 litro de sangue no pulmão esquerdo e meio litro no pulmão direito.", afirma o laudo de Sanguinetti.
Foi concluído que PC Farias foi assassinado por queima de arquivo e a sua namorada era apenas a pessoa errada, no lugar errado. O telefone celular de Suzana, que sumiu da cena do crime, jamais foi encontrado e o autor do crime permanece desconhecido após anos.
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