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O Assassinato do Médico João Paulo de Miranda Netto

02 de março de 1959

O médico João Paulo de Miranda Netto foi assassinado na tarde do dia 2 de março de 1959, uma segunda-feira, por volta das 14h30, em frente à Casa de Saúde Lessa Azevedo, localizada na Rua Cincinato Pinto, no centro de Maceió. A clínica, que hoje leva o nome dele em homenagem, foi o cenário de um crime que chocou a sociedade alagoana.

Segundo relatos, o médico estacionou seu automóvel, sem desligar o motor, e desceu apressadamente em direção à clínica. Poucos segundos depois, retornou carregando uma caixa de sapatos contendo alguns periquitos australianos. Antes de entrar no carro, foi abordado por um senhor idoso que solicitou atendimento, sendo orientado a voltar no dia seguinte. Mal havia se despedido do paciente quando um homem magro, alto e aparentando vinte e poucos anos aproximou-se, conversou rapidamente, sacou um revólver Smith & Wesson calibre 38 e disparou várias vezes à queima-roupa, fugindo em seguida no automóvel da vítima, que permaneceu com a chave na ignição e o motor funcionando.

O médico caiu na calçada e morreu 50 minutos depois, exatamente às 15h20, enquanto recebia cuidados médicos. Ele foi atingido na cabeça e na região renal direita. Na fuga, o atirador ainda passou sobre as pernas da vítima, que havia caído em frente ao veículo.

Prisão do Assassino

A polícia agiu rapidamente, bloqueando todas as saídas da capital e, seguindo algumas informações, dirigiu-se ao município de Atalaia, onde encontrou o veículo utilizado pelo criminoso, abandonado em um pequeno matagal na região do sítio Branca. A identificação do assassino foi questão de poucas horas. Ele foi preso na madrugada seguinte, dormindo em meio à vegetação, com a arma do crime ao seu lado. O indivíduo era José Miranda, um jovem de uma conhecida família da cidade de Atalaia, cujo sobrenome não tinha qualquer relação com o do médico assassinado.

Conduzido para Maceió, José confessou o crime de maneira calma e tranquila, apresentando a seguinte versão: cerca de seis anos antes, sua mãe, dona Anita Miranda, teria se submetido a uma cirurgia realizada pelo doutor Paulo Neto. Segundo ele, o médico havia deixado um pequeno rolo de gases no organismo de sua mãe, que, com o tempo, causou problemas, levando-a a realizar uma nova cirurgia em Recife. Após a remoção do material, dona Anita faleceu.

O rapaz, que ainda era menor de idade na época do crime, alimentou um profundo ódio pelo médico, culminando em seu assassinato. José Miranda foi condenado pela Justiça e cumpriu pena na antiga Cadeia Velha, conhecida como Casa de Detenção do Estado, localizada na Praça da Independência.

Durante o período de encarceramento, tornou-se líder de movimentos entre os detentos e, em 1961, voltou a ser notícia ao liderar uma rebelião. Anos depois, já livre da pena, deixou Alagoas e se radicou no Sul do Brasil, onde vive até hoje.

Diversas outras hipóteses foram levantadas durante as investigações policiais para justificar o assassinato, mas nenhuma delas conseguiu fornecer provas suficientes para incriminar, de outra forma, o autor do crime.

Implicações Políticas

Reportagens da época indicavam que o assassino era guarda sanitário e estava à disposição do cunhado do governador Muniz Falcão, em Palmeira dos Índios, onde atuava como motorista. José Miranda era casado e pai de três filhos.

O fato de José Miranda ter vínculos com a família do governador, que havia sobrevivido a uma crise política dois anos antes, quando ocorreram tiroteios na Assembleia Legislativa que resultaram na morte de seu sogro, o deputado Humberto Mendes, possibilitou que o assassinato do Dr. Paulo Netto fosse alvo de investigações que buscavam uma motivação política.

Os médicos, organizados pela Sociedade de Medicina de Alagoas, insistiram na existência de uma motivação política para o crime. Em resposta, o grupo ligado ao governador reagiu, e o deputado Pedro Timóteo Acioli Filho conseguiu aprovar um requerimento que resultou em um voto de repúdio aos médicos alagoanos, representados por sua associação de classe.

Nos dias seguintes, houve uma troca de farpas entre os deputados e a Sociedade de Medicina, que tentava reverter a resolução de repúdio. Em contrapartida, os deputados exigiam uma retratação das entidades médicas em relação ao teor da nota pública.

Como resposta, os médicos enviaram um comunicado ao Presidente da República, aos Ministros da Justiça e da Saúde, assim como à Câmara e ao Senado Federal, descrevendo o clima de insegurança que imperava em Alagoas. Além disso, deliberaram que os dois deputados-médicos, Luiz Augusto da Rocha Tenório e José Lobo Ferreira, que haviam apoiado o voto de repúdio, nunca poderiam associar-se a qualquer entidade médica.

João Paulo Miranda Netto

O médico e professor João Paulo Miranda Netto nasceu em Garanhuns, Pernambuco, no dia 3 de junho de 1911. Era filho de Antônio Paulo de Miranda e Quitéria Bezerra Miranda. Casou-se com Yvonne Cabral de Miranda e teve quatro filhos: Úlpio, Iêda, Marta e Marcos.

Após completar seus estudos, João Paulo formou-se em Medicina em 1936 na Escola de Medicina Federal Fluminense. Especializou-se em Cirurgia Geral e mudou-se para Alagoas, onde desempenhou um papel fundamental na fundação da Faculdade de Medicina de Alagoas e da Faculdade de Odontologia de Alagoas.

Além de suas contribuições no campo da medicina, João Paulo Miranda Netto também teve um intenso envolvimento com o esporte alagoano. Ele presidiu o Clube de Regatas Brasil (CRB) em 1944 e a Federação Alagoana de Futebol (FAF) em 1948. Foi professor da Faculdade de Odontologia de Alagoas, lecionando Anatomia, e também foi patrono da cadeira nº 12 da Academia Alagoana de Medicina.

O legado do Dr. João Paulo Miranda Netto transcende sua formação acadêmica e suas realizações profissionais, refletindo a importância de sua contribuição para a medicina e o esporte em Alagoas. Com sua morte trágica, a sociedade alagoana não só perdeu um médico respeitado, mas também um líder e um exemplo de dedicação à saúde e ao bem-estar da comunidade.

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